AquaREla Pantanal reúne conhecimento científico e saberes tradicionais para restaurar o bioma

12/11/2022

No dia em que se comemora o Dia do Pantanal (12), instituições parceiras comemoram avanços de iniciativa para a recuperação de área devastada pelos incêndios de 2020

©Jeferson Prado
©Jeferson Prado

A sabedoria das comunidades tradicionais do Pantanal aliada ao conhecimento científico tem levado ainda mais vida para o bioma, que teve cerca de 22 mil focos de incêndios e mais de 30% da superfície devastada, com cerca de 4,4 milhões de hectares reduzidos às cinzas, em 2020. A Iniciativa AquaREla Pantanal reúne instituições e a comunidade pantaneira para recuperar o bioma, em especial as áreas atingidas pelo fogo dentro da RPPN (Reserva Particular de Patrimônio Natural) Sesc Pantanal.

São parceiras neste trabalho a Mupan (Mulheres em Ação no Pantanal), Wetlands International Brasil por meio do Programa Corredor Azul, o CPP (Centro de Pesquisa do Pantanal), o INAU (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Áreas Úmidas) da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) e o Polo Socioambiental Sesc Pantanal.

Conforme a coordenadora científica da AquaREla Pantanal, Cátia Nunes da Cunha explica, trata-se de uma ação pioneira de recuperação de áreas úmidas do bioma. "A restauração vem para uma revitalização em ambientes que foram, de alguma forma, degradados. Com isso, vamos tentar trazer, por exemplo, a biodiversidade que estava faltando em determinado lugar, conter erosão. Ou seja, promover a melhoria desse ambiente para as próximas gerações", afirma.

A conservação e recuperação das áreas degradadas do bioma passam pela produção de mudas nativas do Pantanal, que tem envolvido as comunidades pantaneiras de Capão do Angico, em Poconé (MT), e Barão do Melgaço (MT). Ao mesmo tempo em que gera renda e fortalecimento para as comunidades, a AquaREla Pantanal tem produzido mudas nativas do bioma para a recuperação das áreas atingidas pelo fogo.

Toda a produção de mudas tem acontecido dentro das próprias comunidades. Elas recebem suporte técnico e capacitações. As mulheres envolvidas na iniciativa também recebem bolsa para desenvolver o trabalho de viveiristas.

"O trabalho todo contempla os três pilares da sustentabilidade: social, ambiental e econômico. Atualmente, 12 famílias participam de todas as etapas de produção das mudas e cinco outras participam dos plantios, mas os ganhos são escalonáveis quando se pensa no impacto ambiental, e nas condições de vida no local que são reestabelecidas para a fauna e flora, sem mencionar nos impactos coletivos", afirma a diretora da Wetlands International Brasil, Rafaela Nicola.

Viveirista da comunidade de Capão do Angico, Natalice da Costa afirma que a comunidade inteira é beneficiada pelas ações. "É um sopro de esperança, não só para os animais e as plantas, que tanto sofreram com o fogo. Ela chega para nos resgatar também, trazer uma nova força", garante.

"Através do projeto, fui até o Xingu conhecer o trabalho que eles realizam com bancos de sementes e há intenção da gente vender mudas, futuramente, para os proprietários rurais da região", conta a viveirista Miriam Amorim que, além de participar do projeto, chefia a brigada comunitária de São Pedro de Joselândia, em Barão de Melgaço.

Até o momento, os dois viveiros já produziram 40 mil mudas nativas de áreas úmidas, de 54 espécies diferentes, entre elas ipês (amarelo, roxo e branco), jatobá, cumbarú, paratudo, tarumã, pequi, timbó, figueira, genipapo, manduvi, siputá, ingá, bacupari, acuri, aroeira e imbaúba.

Parte desta produção foi utilizada na restauração e regeneração de 46 hectares da RPPN Sesc Pantanal atingidos pelo fogo e o restante será comercializado pelas associações comunitárias ou, em alguns casos, doados para projetos de recuperação de outras áreas.

Vídeo documental

A história de esperança, resiliência e amor ao Pantanal de Natalice, Miriam e suas comunidades é mostrada em um vídeo que está sendo lançado neste sábado, 12 de novembro, data em que se comemora o Dia do Pantanal. O material resumido está disponível nos canais do Instagram e Facebook da iniciativa, @aquarelapantanal, e versão completa pode ser conferida AQUI.

Natalice da Costa
Natalice da Costa


O audiovisual conta um pouco dessas conquistas, fruto da união entre os saberes tradicionais das duas comunidades pantaneiras de Mato Grosso - Capão do Angico e São Pedro de Joselândia, com a ciência fomentada por instituições parceiras que acreditam que a colaboração é a melhor forma de conservar para as próximas gerações esse bioma tão importante para o planeta.

Iniciativa AquaREla Pantanal

Esta iniciativa resulta de uma série de ações rigorosas e projetos anteriores que alcançaram ótimos resultados e foram coordenados por importantes instituições parceiras na sua execução. Ações da AquaREla Pantanal são desenvolvidas no âmbito do projeto "Recuperação de Florestas Ribeirinhas Pantaneiras: beneficiando água, solo, peixes e populações do entorno da RPPN Sesc Pantanal" e do Programa Corredor Azul da Wetlands International, que conta com a participação decisiva das comunidades da região para a produção de mudas e plantios nas áreas de restauração do Pantanal.

A Iniciativa é um trabalho construído no coletivo que envolve a organização Mulheres em Ação no Pantanal (Mupan), Wetlands International Brasil, Polo Socioambiental Sesc Pantanal, Centro de Pesquisa do Pantanal (CPP), e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Áreas Úmidas (INAU/UFMT).

A AquaREla Pantanal é financiada pelo: 1) Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) por meio do Projeto Estratégias de Conservação, Recuperação e Manejo para a Biodiversidade da Caatinga, Pampa e Pantanal (GEF Terrestre), coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), com as agências Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) como implementador e o Fundo Brasileiro de Biodiversidade (FUNBIO) como executor; & 2) DoB Ecology via Programa Corredor Azul da Wetlands International.