Evento promove discussões sobre valoração dos serviços ecossistêmicos do Pantanal
Aconteceu nos dias 14 e 15 de maio, em Campo Grande - MS, o Simpósio "Valoração de Serviços Ecossistêmico do Pantanal". A ocasião serviu para discutir os conceitos, oportunidades e aplicabilidade dos serviços ecossistêmicos (SE) no Pantanal, e assim, refletir sobre os benefícios que a natureza pode trazer para as pessoas. O evento foi realizado em parceria pela WWF-Brasil, Wetlands International, Mupan, UFMS e Embrapa.
No primeiro dia, o Professor Peter May, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), apresentou o conceito dos serviços ecossistêmico e o panorama atual, destacando que os métodos utilizados para valorar os serviços ecossistêmicos - vitais para o bem-estar humano e para as atividades econômicas -, são os mais variados. "Temos o ambiental, o social, o econômico aplicados aos diferentes contextos. Desenvolver a valoração de forma pluralista, tipo o que estamos fazendo aqui - discutindo e trocando conhecimentos - é o ideal a ser feito", disse durante sua apresentação para uma plateia de pesquisadores, representantes de órgãos governamentais, não governamentais e representantes de proprietários rurais.
A partir das discussões, foram realizadas dinâmicas para o reconhecimento de potenciais serviços ecossistêmicos no Pantanal, além de apresentações de casos já existentes, um deles, sob responsabilidade do professor Fábio Roque, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). "Historicamente, já existem algumas iniciativas pontuais, porém recentemente reunimos grandes pesquisadores e pessoas ligadas às organizações não governamentais e atualizamos os cálculos. Isso resultou num valor potencialmente elevado. A produção de gado, baseada em pastagens nativas é um bom exemplo de serviço ecossistêmico que já ocorre no Pantanal, junto com a produção pesqueira e o turismo", enfatizou Fábio.
Serviços ecossistêmicos para além do meio ambiente
"Valores Culturais, Potencialidades e Inter-relações no Pantanal", foi tema do painel do Programa Corredor Azul, com destaque para as percepções, e os primeiros resultados organizados pelo Programa. Os serviços ecossistêmicos contribuem para o bem viver, ao tratar de questões de sentido de pertencimento, o sagrado, as tradições, as belezas naturais, e a diversidade que geram turismo contemplativo e de pesquisa. O painel foi apresentado pelas colaboradoras Lílian Ribeiro e Mayara Scur.
Ao final da apresentação, foi exibido o vídeo sobre os Territórios Indígenas de Conservação e Áreas Conservadas por Comunidades Locais (TICCA), produzido por ocasião do 1º Encontro TICCA Brasil, realizado em fevereiro de 2018.
A abordagem TICCA e os serviços ecossistêmicos, são alguns dos subcomponentes do Programa Corredor Azul Pantanal, da Wetlands International. A Mupan é a instituição implementadora do PCA no Brasil, além de ser membro do Consórcio ICCA, e a instituição articuladora no país.
O compartilhamento de informações sobre o tema e o direcionamento dos próximos passos, deram a tônica do segundo dia. A sintonia e o empenho nas atividades surpreenderam os organizadores, bem como o grande número de participantes que superou as expectativas.
"Inicialmente, tínhamos a expectativa de um evento menor, com cerca de 20 pessoas. E ao final desses dois dias, tivemos a participação de aproximadamente 60 pessoas super engajadas e conectadas. Espero que, nos próximos passos esse diálogo continue", destacou o gerente do programa Cerrado Pantanal do WWF-Brasil, Júlio Sampaio. E completou: "esse Simpósio é específico para o Pantanal. Dentro da nossa estratégia, também estratégia da Wetlands International e da Mupan, a gente identifica a discussão sobre os Serviços Ecossistêmicos, como essenciais para influenciar políticas públicas e para a implementação de projetos que aportam o desenvolvimento sustentável da região".
Desafios e próximos passos
Nos dois dias de Simpósio, foi possível mapear e priorizar os principais serviços ecossistêmicos do Pantanal. Também foi feito um levantamento do que está sendo pesquisado e estudado nas instituições de ensino e pesquisa, nas organizações governamentais e não governamentais. Agora, um dos desafios é dar foco aos temas que ainda foram aprofundados.
A consultora do Programa Corredor Azul, professora Cátia Nunes, defende que o momento é de definir estratégias, detectar problemáticas e possíveis nortes para saná-las. "Este evento é uma excelente oportunidade de mapear o que está sendo feito na região e detectar pontos que precisam ser fortalecidos em termos metodológicos".
Mesma opinião, defendeu o professor Fábio Roque, "no geral, os serviços ecossistêmicos, a natureza em si, são vistas como algo contrastante com a produção rural. Estamos fazendo um esforço para demonstrar que isso é uma falsa dicotomia. Um depende do outo e, atualmente, a gente consegue pelo menos contabilizar tudo isso. Vejo esse encontro como o começo do processo de articulação das pessoas que trabalham com serviços ecossistêmicos, mas que não estavam conectadas, e isso já é um ganho". Destacou ainda, que falta conectar outros atores, como os indivíduos que atuam diretamente com os serviços ecossistêmicos no Pantanal. Criar uma grande rede, um grande pacto para difundir o conceito e inseri-los nas políticas públicas.
Júlio Sampaio destacou: "conseguimos organizar uma lista de serviços ecossistêmicos específicos, com a linguagem própria do Pantanal. E isso é o ponto de partida para um grande alinhamento de todos os projetos e trabalhos que tocam esse tema".
Os resultados das discussões serão compilados para compor um capítulo do livro "Flora and Vegetation of Pantanal Wetland", da série "Plant and Vegetation" da Editora Springer.